quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O que aconteceu na manhã de 5 de outubro

Ninguém acordou imaginando que haveria uma revolta. Provavelmente tudo teria sido como qualquer dia ordinário se não tivesse chegado aos ouvidos de muitos, ainda antes de entrar na escola, que o portão do pátio havia sido fechado. Como era de se esperar, ao se dirigir até o saguão todos puderem ver uma boa quantidade de alunos ali esperando alguma satisfação, na sua maioria alunos do ensino médio que também cursando o técnico estavam revoltados por não poder levar sua comida até o marmiteiro.

Em meio a algum barulho ali ocasionado, um dos nossos coordenadores, o Sr. Francisco, se posicionou ante um grupo de alunos e disse que iria imediatamente tomar providências para que o portão fosse aberto e demonstrou em bom tom sua própria insatisfação quanto a decisão tomada de última hora e quanto as decisões estarem sendo tomadas sempre assim.

Inflamados pelo ocorrido, um grupo de alunos do terceiro ano iniciou um manifesto silencioso. Usando como arma nossas folhas de caderno, canetas e fita adesiva, foram marcadas frases comparando a escola a uma prisão. Iniciou-se o movimento de colar uma folha de caderno com um número de detento no peito. Em pouco tempo, um número surpreendente de alunos começou a usar o número de detento.

Ao redor desses números, surgiu a ideia, não se sabe ao certo de quem e nem nos cabe buscar saber, de ir protestar no saguão.

Muitas pessoas começaram a se dirigir ao saguão, enquanto outras corriam pelas salas avisando do ocorrido e pregando folhas nas portas nomeado as classes como celas. Em pouco tempo, um contingente enorme de alunos se reuniu de frente a sala dos professores.

Em meio ao barulho e algazarra, alguns alunos tomaram a frente e fizeram com que todos se sentassem. Não houve muito tempo para explicações da parte dos alunos, e nosso coordenador Sr. Francisco começou um conversa. Inicialmente, ele tentou acalmar o movimento e chegar a uma solução pacífica. Ele nos deu a proposta de voltar as salas e esperar o diretor chegar. Nós, unidos ali em frente, resistimos. A nossa conversa era com o diretor.

Por fim, emocionado com demonstrações de apoio da parte de todos nós, o coordenador Francisco se viu sem muito mais o que fazer, e deixou que permanecêssemos ali.

As horas que se seguiram foram confusas.

Muitos foram a frente, muito foi dito por eles, mas a grande massa que ali estava ainda estava muito dispersa e animada. Ali permanecemos por um bom tempo, alguns a frente traçando planos e tirando dúvidas, mas ainda havia muita confusão.

Logo não havia mais ninguém para falar a multidão e iniciou-se um movimento de dispersão por parte de muitos. Enquanto muitos saiam, outros dedicavam cada pedaço de papel que encontravam para construir mensagem, seja citando Cazuza ou System of A Down, sejam frases de apoio ou charges fazendo humor com a demora do diretor para chegar. A entrada se encheu de folhas de papel e cartazes e o som de conversas e muita expectativa pelo momento da chegada do diretor.

Também enquanto isso, foram tentados contatos com jornais e televisão para cobrir o evento, porém infelizmente só houve a chegada de um repórter após o sinal da saída.

Voltando aos acontecimentos, foi colocado o quadro com as notas no meio do saguão e liberada a merenda. Nesse momento, o saguão aos poucos começou a esvaziar. O desânimo e a revolta bateu sobre muitos que estavam a frente. Muitos desanimaram. Muitos disseram que era tudo uma desculpa para se matar aula.

Enquanto a situação no saguão estava preocupante, um grupo de gênios, com humilde modéstia, se reunia na biblioteca para iniciar uma pesquisa nas bases legais que justificasse nosso manifesto. A esses nos referimos como "Os Suíços", pois eles preferem ter seus nomes ocultados e não se envolver diretamente na manifestação, permanecendo "neutros" como a Suíça.

As anotações dos Suiços chegaram as mãos daqueles que estavam a frente, e enquanto todos dispersavam planos foram traçados e conversas-chave aconteceram. Nesse meio da reunião, um aluno ligou para o telefone fornecido pelo próprio diretor e foi atendido por sua esposa de forma grosseira. A informação retirada da conversa rude? Nosso diretor estava em reunião em São Paulo e não poderia comparecer. Ao mesmo tempo, quando questionado, um funcionário de nosso escola disse que o diretor estava em reunião na prefeitura.
Interessante isso, não?

Voltando aos fatos. Após essa informação, seguiu-se a organização e por fim foram chamados de volta aqueles que tinham saído do saguão. Estávamos em menor número do que antes, mas ainda éramos uma multidão.

Foram expostos os fatos a multidão. Foi dito: "Quem está com a gente" e todos disseram sim, e então foi tido que temos que ter postura pra isso. Foi conquistado com muito custo o silêncio entre a multidão, o silêncio que nós precisaremos ter em frente ao diretor. Quando chamamos a frente o nosso veterano que saiu ano passado e havia comparecido pois chegara a seus ouvidos sobre a manifestação, ele foi barrado e levado para fora da escola, na frente da multidão.

Essa cena reforçou tudo o que foi dito sobre o passado, e assim, foi prometida a presença amanhã. Foi combinado que todos nós estaremos lá amanhã, e que entraremos na primeira aula para as 8:00 da manhã subirmos de novo, e se necessário esperarmos todo dia. Foi prometida a postura, foi prometida a educação. Foi prometida a camiseta branca com Fernando Prestes no peito para representar pelo que lutamos.

Por fim, em um sinal de que essa manifestação é pacífica e se faz pelo certo, foi pedido pelos que estavam a frente que se entrasse na última aula, e aqueles com consciência o fizeram. E nos despedimos desse primeiro dia de manifestação com a imagem de todos os ali presentes de braços erguidos, e sobre um coro de "Fernando Ê-O".

Mesmo tendo falado muito, é difícil descrever todos os discursos e todos os momentos fortes do dia. O fato é: as conversas em uma salinha fechada acabaram. É tempo de agir, é tempo de se juntar a essa multidão que é um só Fernando Prestes, O que estamos pedindo não é impossível, é apenas o mínimo de confiança e um pouco de interação nas decisões que influenciam tanto na nossa vida.

Na próxima postagem eu explicarei a todos o que estamos reivindicando.

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