quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Documento - Reinvidicações

Nesse documento foram canalizadas as idéias principais e contidas nos papéis preenchidos pela classe, ele será levado até o diretor e espalhado para que todos vejam. Aqui o reproduzo:


Reivindicações dos Manifestantes


Em virtude dos acontecimentos recentes que conduziram ao manifesto, foi pedido a todos os alunos que se reunissem como salas e juntassem suas reivindicações em um único documento. Tais documentos chegaram as minhas mãos, e a partir deles está sendo elaborada esta lista de reivindicações. É necessário, antes de qualquer coisa, ressaltar que todas as reivindicações aqui retratadas estão em consenso em todos os documentos elaborados pelas salas do ensino médio da Escola Técnica Estadual Fernando Prestes na manhã de 6 de outubro de 2011. Sendo assim, essas reivindicações são do consenso de todos os alunos inseridos em tais salas da referida escola.

I – Quanto à comunicação

A.     Em caráter de urgência solicitamos uma reunião aberta - permitindo o livre acesso de pais e alunos a mesma - entre o Diretor Paulo Sérgio Germano, a coordenação da unidade escolar e representantes dos manifestantes e seus pais.
B.     Pedimos o compromisso de que reuniões do caráter da descrita no item A sejam realizadas com freqüência.
C.     A médio prazo pedimos a inclusão de pais de alunos e alunos representantes nas decisões da escola, para que possa ser cumprido o previsto no perfil da escola de: “ [...] possibilitar a todos os membros da comunidade escolar o comprometimento no processo de tomada de decisões para organização e para o funcionamento da UE [...]”. Sendo assim, pedimos a inclusão destes no conselho já existente ou a criação de um novo conselho para Pais e Alunos.

II – Quanto aos problemas de horários
           
Pedimos a restauração ao antigo estado, onde a única mudança solicitada seria a volta de um horário mais flexível, sendo permitida a entrada dos alunos no ambiente escolar no período das trocas de aula e durante o intervalo.

III – Quanto a distinção dos Alunos

Tendo como base o fato de estarmos sobre um mesmo conjunto de deveres e direitos contidos em um manual entregue aos alunos intitulado como “Manual do Aluno”, pedimos o respeito para com os alunos, de que uma decisão tomada referente ao período da manhã estenda-se por todos os demais períodos e, caso exceções sejam concedidas, que se conceda a todos os períodos, pois de acordo com esse manual, é direito dos alunos: “Ser respeitado e valorizado em sua individualidade, sem comparação nem preferência”.

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Um desabafo

Esse texto foi escrito por um aluno formado na ETec Fernando Prestes a um certo tempo, que acompanhando a manifestação fez também seu desabafo. Assim como chegou a minhas mãos, aqui o reproduzo:

"Primeiro gostaria de frisar que não é de hoje que os alunos estão insatisfeitos com o diretor. Quem acredita que o ensino médio serve para aproveitamento das matérias e que assim vai passar em uma federal vive em um conto de fadas, pois o ensino, não só no FP, mas o ensino público em geral está muito defasado, e ano após ano o que mais se vê são alunos se formando e indo estudar em UNISO, UNIP ou ESAMC, os que não fazem isso vão para cursinho. Os que conseguem passar direto para alguma universidade pública são minoria, e ouso dizer que 90% disso se deve ao próprio aluno, a escola é o de menos.

Os alunos no FP passaram a ser tratados pelo Sr. Paulo Germano como adolescentes sem discernimento e que devem ser guiados como gado em um pasto. Ensino médio é uma fase de transição, uma fase onde se deve errar e aprender a consertar o que está errado por conta própria. Me formei em 2010 pelo FP, e admito que matei muitas aulas lá, mas uma coisa eu digo, aprendi muito mais fora da sala de aula do que dentro.

Dentro da sala já foi dito que eu não tinha futuro e um professor chegou a gargalhar na minha cara quando eu comentei o que gostaria de fazer no futuro, me desacreditando totalmente, e não foram episódios isolados. Fora da sala eu recebia apoio da maioria dos colegas nas minhas matanças de aula. E hoje eu vejo que a minha fase de errar passou, errei muito e por isso agora eu erro menos e graças ao tempo 'perdido' por aí ganhei jogo de cintura, o que hoje em dia no mercado é o que está em falta ! Qualquer gestor sabe que o que falta no mercado hoje em dia é atitude, e é justamente o que querem que acabe no FP.

Ninguém procura por profissionais que aceitam o que lhes é imposto de cabeça baixa, esses serão os peões, o mercado anseia por profissionais que saiam dos parâmetros e coloquem a cara pra bater! E eu tenho absoluta certeza que o mercado dá muito mais valor para o aluno que foi lá, questionou, fez o que pôde para atingir os seus objetivos nessa confusão que está acontecendo do que para aquele aluno que tem 100% de frequência na aula, não moveu um dedo nisso tudo que aconteceu, e que provavelmente se desespera quando não pode recorrer à receita de bolo ensinada.

A questão vai muito além do aluno tirar notas ruins ou boas, isso não vai fazer diferença no futuro de ninguém, não é isso que o mercado procura. Quem diz isso é um aluno que foi muito criticado durante suas estadia no Fernando Prestes, e que figurava entre os piores alunos de sua sala. Porém teve o maior número de acertos no ENEM da sala e quando o mundo lhe cobrou alguma coisa, cobrou atitude, força de vontade, e malícia, coisas que aprendi a ter fora da sala de aula.

Nos tempo atuais, na era da tecnologia e informação, o diferencial é até onde você pode criar, interpretar, e moldar informações, e não até que ponto você pode obedecer ordens e ter essa pseudo-disciplina que tanto é cobrada pelos educadores, mas que na verdade é uma lição de como se tornar massa de manobra. A verdadeira questão ao meu ver é essa, Paulo Germano e diretoria, para quê vocês estão preparando seus alunos? Para qual mundo e qual mercado? É isso."

O que nos apoia

Retirado do Estatuto da Criança e do Adolescente:


Capítulo II
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à 
dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como 
sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:

I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as 
restrições legais;

II - opinião e expressão;

Retirado da Constituição do Estado de São Paulo de 1989:

Artigo 238  - A lei organizará o Sistema de Ensino do Estado de 
São Paulo, levando em conta o princípio da descentralização.

Artigo 239  - O Poder Público organizará o Sistema Estadual de 
Ensino, abrangendo todos os níveis e modalidades, incluindo a especial,
estabelecendo normas gerais de funcionamento para as escolas públicas estaduais e 
municipais, bem como para as particulares.

Artigo 241  - O Plano Estadual de Educação, estabelecido em lei, 
é de responsabilidade do Poder Público Estadual, tendo sua elaboração coordenada 
pelo Executivo, consultados os órgãos descentralizados do Sistema Estadual de
Ensino, a comunidade educacional, e considerados os diagnósticos e necessidades 
apontados nos Planos Municipais de Educação.


Retirado da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988:

CAPÍTULO III

DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO

Seção I
DA EDUCAÇÃO

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;


E por fim, retirado do perfil da escola ETec Fernando Prestes:

CAPÍTULO II

Dos Princípios e das Finalidades

Artigo 4º - Os princípios de gestão democrática nortearão a gestão da UE (unidade escolar), valorizando as relações baseadas no diálogo e no consenso tendo como práticas a participação, a discussão e a autonomia.

Parágrafo único - A participação deverá possibilitar a todos os membros da comunidade escolar o comprometimento no processo de tomada de decisões para a organização e para o funcionamento da UE e propiciar um clima de trabalho favorável a uma maior aproximação entre todos os segmentos da ETE.


Altos e baixos em 6 de Outubro

Nesse segundo dia, a maioria das pessoas já chegou bem animada para tudo que ia acontecer. Ao sinal da segunda aula, muitos já se dirigiram para o saguão, outros tiveram que ser chamados na sala e ainda outros foram retidos por professores.

Após a massa ter se organizado e sentado, foram expostos e esclarecidos os acontecimentos das suas reuniões do dia anterior:

- Reunião com os aluno do médio no técnico - basicamente foi comentada como foram abordados assuntos aleatórios como Deleite Day e que pouco foi falado. Também foi comentada a postura do diretor em não responder as questões levantadas. E ao fim dessa reunião ele informou o então desejo de falar apenas com 5 representantes de cada sala.

- Reunião com os pais - durante a reunião realizada as 20h com os pais, o que mais ficou foi a indignação dos próprios pais e a esquiva do nosso diretor ante os questionamentos deles. Ficou provado que temos os pais ao nosso lado e que partilhamos do mesmo pensamento. Também foi comentado como nosso diretor tentou fugir silenciosamente da reunião e depois pediu apoio a um único pai, sendo repudiado.

Depois dessas informações, tivemos um pequeno conflito com a coordenadora que tentou interferir em nossa assembléia usando de uma caixa de som. Por nossa insistência em manter a reunião fechada, a caixa de som foi desligada e ela não mais interferiu.

Foram necessários alguns minutos e gritos, mas em pouco tempo nos organizamos de forma eficiente e funcional para que todos falassem. Obviamente houveram alguns problemas nessa organização, mas foi importante o fato de que conseguimos uma proximidade e interação muito grande nesse primeiro momento.

Foi falado das nossas principais reivindicações, mas também foram citados muitos assuntos desnecessários e repetidos. Foi necessário puxar o foco para o que seria a real luta: a reunião aberta com o diretor. Vendo que não havia organização daquela forma, foi pedido que as classes se organizassem e colocassem suas propostas em uma folha. Foi dada uma hora para isso.

Nesse meio tempo, um dos alunos que se destacou como orador foi escolhido para nos representar e levado a uma reunião com um Suiço e alguns dos que estavam a frente nesse dia. Retiramos argumentos legais para defender a reunião com o diretor que serão publicados aqui em sequencia.

Quando foi chegado o horário de retorno ao saguão houve uma grande confusão. Muitos se desentenderam com a exigência por parte da administração da escola de que fossem entregues os nomes dos cinco para que se fosse realizada a reunião.

Enquanto se discutia isso em um canto, foram passada algumas orientações de como se comportar para os que estavam sentados e o orador foi posto a frente para instruí-los das bases legais retiradas da reunião. E a discussão no canto se acalorando ao ponto de muios ânimos se exaltarem.

Nesse tempo, também, o diretor chegou a escola, e também foi chamada a polícia, que ao chegar percebeu que se tratava de uma manifestação pacífica e ali permaneceu. Alguns alunos se dirigiram a sala do diretor para conversar sobre a reunião.

Houve a tentativa de expor tudo que estava acontecendo em relação a reunião dos 75, mas a chegada constante de informações deixou tudo difícil. Por fim, acabaram-se escolhendo cinco pessoas de cada sala, foi tentado obter a atenção de todos novamente mas com o sinal da saída houve um grande tumulto.

No fim, os que estavam na sala saíram e os fatos são:

- Haverá uma reunião com os 75 representantes na segunda-feira, nas duas últimas aulas.
- Foi-se dito que amanhã todos os que não fossem representantes entrariam na aula.

Houve algumas discussões acaloradas, houve manifestações opostas. Mas no fim estamos juntos nessa novamente, mesmo com tudo que aconteceu.

Hoje não foi uma vitória, e nem uma derrota.

Demos um passo, há quem diga que pra frente, há quem diga que pra trás. Mas os fatos não voltam, já aconteceu. Temos uma oportunidade e a usaremos.

Se amanhã haverá manifestação ou não, ainda é assunto para amanhã e todos vocês serão informados, da mesma forma que foram quando tudo isso começou.

O fato é que prepararemos os 75 para a reunião, e precisamos que todos estejam unidos para que se algo der errado, partamos para a batalha de novo.

Pequena nota de esclarecimento

Duas coisas.

Primeiro: foi marcada uma reunião entre o diretor e 75 alunos, 5 representantes de cada sala. Essa reunião acontecerá na segunda, nas duas últimas aulas.

Segundo: nesse primeiro momento, a orientação é que sigam para a primeira aula normalmente. Qualquer mudança no plano de permanecer em aula normal será comunicada, possivelmente antes do fim da própria primeira.

Ou seja, não é certo se haverá manifestação ou não. Primeiramente vamos resolver alguns conflitos do opinião que ocorreram hoje para que todos concordem com o mesmo pensamento.

Peço desculpas a todos pelos conflitos ocorridos ali na frente, nos reuniremos justamente para que isso não se repita e estejamos todos sobre o mesmo pensamento, as mesmas exigências.

Eu sei que muitos acham erradas essas decisões, mas não é hora para nos dividirmos novamente. O que aconteceu já aconteceu, é momento de nos organizarmos e prepararmos para essa batalha.

Se a reunião com os 75 ocorrer será com intuito de conseguirmos nosso objetivo final.

Estamos fazendo o máximo para informar e ouvir vocês, e estamos fazendo o máximo para tornar isso de todos. Perdão se estamos falhando, melhoraremos.

E precisamos mais que nunca, da força de vocês.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Nossa Postura.

Estamos numa luta. Uma luta que iniciamos de forma abrupta, mas agora é o momento de nos organizarmos.

Primeiro, eu acabei de postar sobre pelo que estamos lutando. Ou seja, se prepare para falar sobre isso e NÃO FUGIR DO ASSUNTO. Por favor, se você desviar em qualquer momento desse assunto estará dando brecha para derrota. Ou seja: portões e nossa tão suada liberdade entre aulas na cabeça.

Se você faz ou não, admita MATAR AULA É ERRADO. Teve quem não ligasse, mas é errado. A gente não está defendendo isso.

Nosso foco é uma melhor convivência, maior flexibilidade e uma postura mais aberta por parte da administração que prometeu isso.

Segundo, FIQUEM EM SILÊNCIO. Respeitem quem fala, respeitem as pessoas que conversarão conosco enquanto estivermos unidos. Ouçam, NÃO CONVERSEM PARALELAMENTE, isso é sério, prestem atenção a todas as palavras.

Terceiros, aos aventureiros que quiserem ter a palavra, tenham educação LEVANTEM A MÃO. E amigos, PENSEM EM TUDO que falarem, CALCULEM CADA PALAVRA, vocês sabem como essas conversas são. Cuidado para que não se vire contra você.

Ainda mais, permaneçamos unidos, não dispersem, não fujam, no saguão é onde estaremos.

Por último, os combinados:

*TODOS ENTRAM NA PRIMEIRA AULA
*TODOS SOBEM AS 8H PARA O SAGUÃO
*TODO COM CAMISETA BRANCA

Obviamente, estamos a espera da reunião de pais em que algo grave pode acontecer, mas se o manifesto for acontecer amigos, tenham isso como seu manual.

Nossa Luta

Revoluções no geral começam com um descontentamento, mas o que ocorreu hoje não foi apenas um descontentamento, foi o acumulo de descontentamentos consecutivos sobre centenas de descontentes, cada qual com um descontentamento diferente, não somos parte do geral, somos diferentes, somos uma grande massa de excessões. Somos diferentes, não tente nos tratar como um geral em um anfiteatro, foi assumida responsabilidade de cuidar de 600 alunos diferentes que inevitavelmente interagiriam. Também assuma a responsabilidade de entender suas diferenças, não tente generalizar o que por natureza é diferente. Também foi assumida a responsabilidade de ouvir a opinião de cada um sem ignorar alunos apenas para não ter seu ego abalado ou por ter medo de perder o controle. Foi assumido que poderíamos ir até você qualquer e qualquer lugar, aqui estamos. Ninguém gosta de ser uniformizado, somos 600 pessoas diferentes. Mas nem isso importa tanto mais. Estamos uniformizados e iguais, como um todo sobre uma mesma causa. Ninguém gosta de ser posto assim, mas ninguém gosta de ser menosprezado por quem devia nos representar.

É hora de você apenas tentar adquirir um pouco de respeito, nos respeitando, é o minimo que voce pode fazer. O seu perdão, já é tarde demais pra isso. A exigência é simples, é que nos respeite, nos respeite como um todo. Não é mais "por favor" é "eu exijo". Terá que ser aos olhos de TODOS.



É o momento, não podemos sumir agora. Não vamos reivindicar algo impossível. Não queremos utopias de liberdade, não queremos o que é impossível e que não faz sentido.

Nós estamos pedindo apenas por um mínimo de confiança, apenas isso.

O que é esse mínimo?

É você não ser obrigado a ficar horas a fio dentro de uma sala de aula. É o seu professor poder te dar cinco minutos sem ser repreendido. É você poder tomar um café pela manhã para acordar sem infringir nenhuma regra.

É poder ir a escola mesmo quando se perder o ônibus ideal sem ter que se explicar um milhão de vezes para acabar tendo que pular um muro. Pular um muro para entrar na escola, não seria mais fácil ir embora? Pois é,  apesar de tudo nós gostamos de estar aqui e temos responsabilidade suficiente pra assumir que aulas são necessárias.

Sim, e com isso eu digo, nós estamos errados em matar aulas. Mas ninguém está erguendo uma bandeira e defendendo isso, a luta é outra.

Não é por camiseta.
Não é por portão aberto todo o tempo.
Não é pelo que não volta mais.

É por não sofrer punições absurdas pela falta de camiseta.
É por não ter que ficar para fora mais.
É, por mais incrível que pareça aos olhos de tantos, pelo nosso direito de estudar.

É uma luta é pra se sentir bem de novo na sala, é luta é por ter um pouco de confiança. Assim como o filho que quer se provar responsável, nós nos provaremos fortes para conquistar isso.

E assim, conquistar um pouco do que nossa escola era, e aos poucos, reconquistá-la de vez.

AOS OLHOS DE TODOS.

É TODOS OU NADA.

*Escrito com a ajuda de ~Le Fat One~*